terça-feira, 13 de abril de 2010

Diversidade e inclusão

Sobre o tema diversidade e inclusão, pensamos que o professor deve ter como princípio básico em seu trabalho o respeito à diversidade e a preocupação com a inclusão do aluno. Partimos da premissa de que o professor não deve medir esforços para que todos os alunos e alunas tenham seus corpos, habilidades e competências respeitadas e consideradas no momento de serem elaboradas as situações de aprendizagem, e que hajam garantias para que todos participem efetivamente das atividades. Para que essas idéias se dêem efetivamente na prática, além das mudanças internas necessárias e que cada membro do grupo classe ou escola deve realizar consigo, sugiro aos professores realizar adaptações e modificações quanto às atividades, regras, espaço físico e aos materiais, principalmente no que diz respeito aos alunos com necessidades especiais. Isso implica também em tomar todos os cuidados necessários para dissipar as possíveis causas da não participação do aluno, tais como: atitude discriminatória por parte do grupo em relação à característica corporal, gênero, social ou racial.
Assim, todos devem ter o direito a participação nas atividades. O professor deve se preocupar ainda em minimizar os riscos de acidentes dos alunos, adequando propostas, espaço físico e materiais e até mesmos as regras dos jogos, para que a participação de todos seja efetiva e com segurança. Vergonha e humilhação devem ser evitadas e qualquer situação que implique em constrangimento ou humilhação do aluno. Nas atividades onde haja competição, as comparações são inevitáveis, porém, devemos tomar cuidado para que não haja preocupação excessiva com o desempenho e o resultado. (Ganhar é bom, perder é ruim, porém, jogar é melhor).

Ação e interação

A interação social em uma sala de aula depende muito do apoio e auxílio do professor.Nos jogos e brincadeiras tarefa do professor é a de promover as interações sociais de suas classes, que num primeiro momento parece ser facilitada pelo trabalho na sala de aula. Porém, essa é uma meia verdade já que algumas das interações que ocorrem durante os jogos e brincadeiras se dão em planos diferentes daquelas ocorridas na classe.Ao utilizar o jogo como meio educacional, o professor estará dando um grande passo em direção à promoção das relações interpessoais do aluno. Os jogos motivam as crianças a encontrar maneiras de serem cooperativas, oferece a possibilidade de aprender sobre a solução de conflitos, lidar com diferentes pontos de vista, elaboração de estratégias, desempenho de papéis e adoção da perspectiva do outro.

Espaço físico

Não temos dúvidas sobre a importância de se ter espaços amplos, disponíveis à prática das atividades de educação corporalSabemos que muitas habilidades e capacidades físicas são desenvolvidas a partir da relação da criança com o espaço físico, e que a construção dessa relação depende muito da variedade e riqueza das experiências que meninas e meninos possam ter durante as aulas.

REPERTÓRIO DE ATIVIDADES

Dentre as seis dimensões, parece-nos que o repertório de atividades é a dimensão que mais traz complicações aos professores, especialistas ou não. Ao elaborar um repertório de jogos, brinquedos e brincadeiras de movimento, pensamos que para além das contribuições que os saberes a respeito das características de cada faixa etária, desenvolvimento motor e da consulta aos diversos materiais escritos sobre atividade fornecem ao professor, este pode também recorrer à sua memória de infância, ou seja, procurar lembrar-se das atividades que realizava quando criança que, além de ser um passeio gostoso por nossas lembranças infantis, pode fornecer atividades interessantes sob muitos aspectos. Registrar sobre essas brincadeiras, sua organização, habilidades motoras solicitadas, espaço onde era jogado, com que materiais, suas regras, o que era bom e ruim em cada brincadeira, quais os sentimentos que cada uma delas suscitava e refletir sobre as possibilidades de adaptá-los e utilizá-los no contexto escolar, será de grande valia.Por outro lado podemos, também, realizar pesquisas com nossos alunos, fazendo um inventário de quais brincadeiras são conhecidas e jogadas por eles fora do âmbito escolar. Pedir para que relatem (no caso dos pequenos, que ainda não escrevem) ou escrevam sobre essas atividades, sobre como se joga, regras, espaços, número de participantes etc., e depois vivenciá-las. Essa prática, além de ajudar a aumentar o número de atividades do repertório do grupo, faz com que a classe estabeleça uma identidade com as brincadeiras que ajudaram a construir e também que atribua significados aos conteúdos escolares, pois já as praticaram em outros contextos o que, garante de antemão, uma realização mais tranqüila. No entanto, o professor como conhecedor das implicações desses jogos para o desenvolvimento das crianças pode propor transformações na estrutura original das atividades com o intuito de fazer com que as crianças dêem um salto qualitativo em suas aprendizagens.

O ambiente afetivamente seguro

Muitos estudos destacam o potencial do brincar no processo de socialização da criança. É claro que a criança também brinca sozinha, mas o brincar é predominantemente uma conduta realizada num contexto social, com outras crianças, jovens ou adultas. Ao longo dos anos, essa socialização pelo brincar se fortalece e podemos afirmar que essa capacidade de se relacionar com diferentes pessoas em diferentes situações de jogos e brinquedos será de grande importância para a convivência do indivíduo em sociedade.Por outro lado, temos que ressaltar que também através de brinquedos e brincadeiras os adultos vão transmitindo para as crianças as condutas que caracterizam as relações de gênero, poder, classe social, etnia. Portanto essas atividades, muitas vezes, realçam os valores, preconceitos e estereótipos que encontramos na sociedade. Assim, na escola, se faz necessário um olhar crítico do educador no aproveitamento da própria brincadeira (dirigida ou livre) como suporte de reflexão junto aos alunos em relação aos princípios e valores evocados na atividade.
Outro aspecto da natureza humana que ganha destaque nas atividades lúdicas é a experimentação de emoções, desejos e sentimentos. O barulho causado pelas crianças é fruto, muitas vezes, das trocas afetivas que se desenrolam ao longo das vivências. Fiquem atentos! As crianças riem, pulam, vibram, sentem contagiante alegria a cada nova conquista ou realização. Demonstram medo, insegurança e aflição a cada novidade que aparece. Choram, ficam bravas, reclamam e se entristecem a cada fracasso ou insucesso na vivência de um duro desafio ou brincadeira.
A atitude de não participar de uma atividade também é comum entre as crianças e pode conter inúmeros significados: querer conhecer um pouco da atividade antes de participar; medo de ser perseguida e ser pega por um pegador; vergonha por não saber executar o gesto solicitado; julgar que o desafio está além de suas possibilidades. Nesse caso específico, deixar que a criança fique de fora por um momento, não quer dizer estar alheio a sua participação ou não. O professor pode, pacientemente, conversar com a criança sobre a sua não participação, compreender seus sentimentos e propor soluções para o problema. Uma das soluções é oferecer sua mão para que fujam juntas do pegador.
A atmosfera afetiva é variada e intensa! Esse talvez seja o aspecto mais difícil de compreender e enfrentar ao propor um trabalho de corpo e movimento a partir das atividades lúdicas aos seus alunos. Professoras e professores e alunos terão que ser muito pacientes, atentos e acolhedores na relação com as mais variadas manifestações de afetividade dos colegas. Um ambiente afetivamente seguro é condição imprescindível para que todos se envolvam no processo de ensino e aprendizagem. A construção desse ambiente é constante e não depende somente do professor, mas também de todos os envolvidos no processo. É um grande desafio para todos; porém, sua contribuição é enorme para o fortalecimento do vínculo entre as crianças e delas com os educadores. Pense nisso!

As funções do brincar na escola

Os educadores devem estar conscientes das diferenças que eles e as crianças atribuem à atividade lúdica na escola. Ao propormos um trabalho de educação corporal a partir de um repertório de brincadeiras no ambiente escolar, temos que ter um olhar educativo no momento de cada vivência. O que estou ensinando através das brincadeiras? Afinal as educadoras e educadores têm objetivos a cumprir em termos de formação humana junto às crianças. São eles que planejam cada situação de aprendizagem, escolhendo os conteúdos a serem aprendidos, a organização da sala, o tempo despendido para cada atividade e a avaliação. Isso porém, não quer dizer pedagogizar a atividade lúdica.Por outro lado, as crianças não pensam sobre isso quando brincam. Não estão preocupadas com os conteúdos e nem se a atividade servirá para aquisições posteriores. Para elas o brincar tem um fim em si mesmo, não é uma preparação para a vida adulta ou recurso para aprenderem outros saberes. O que percebem como importante nessas atividades é a atuação corporal carregada de movimentos, pensamentos, desejos e emoções que tanto lhe agradam e que também, às vezes, causa grandes dissabores ou frustrações. Nesse sentido, para a criança o brincar prescinde do futuro, pouco necessita dele, o que vale é o aqui e agora, o presente bem vivido e bem jogado.
A nosso ver a sabedoria do educador consiste em organizar de maneira intencional o trabalho corporal com jogos e brincadeiras, compreender quais aprendizagens que estão em jogo enquanto jogam, garantir que as crianças aprendam respeitando o tempo e forma de aprender de cada uma, valorizar suas ações e considerar seus saberes anteriores. Ao mesmo tempo, adotar a perspectiva das crianças quanto ao “descompromisso” com o futuro, ao prazer em participar das atividades de maneira espontânea e, além disso, perceber e acolher as diferentes representações simbólicas (exercício da fantasia) que surgem durante as brincadeiras.
Cada criança ou grupo de crianças então, a partir dos conhecimentos transmitidos pelas gerações antigas, vão construindo a sua forma de brincar à medida que brinca. Não é possível prever com grande certeza os desdobramentos e a profundidade que o brincar terá na vida de cada uma delas. Cada professor e professora podem vislumbrar isso observan como o envolvimento de cada criança se altera ao longo das diferentes brincadeiras e até mesmo numa única atividade. Brougére (2000) assim se refere a essa contradição da brincadeira: “Não se pode fundamentar, na brincadeira, um programa pedagógico preciso. Quem brinca pode sempre evitar aquilo que lhe desagrada. Se a liberdade valoriza as aprendizagens adquiridas na brincadeira, ela produz, também, uma incerteza quanto aos resultados. Daí a impossibilidade de assegurar aprendizagens, de um modo preciso, na brincadeira. É o paradoxo da brincadeira, espaço de aprendizagem fabuloso e incerto.”
Mas isto não tira o valor e a importância de se ensinar para todas as crianças um repertório lúdico diversificado. Pelo contrário! Quanto maior for a riqueza cultural relacionada ao lúdico, maiores as ferramentas e possibilidades da criança nesse diálogo com a própria cultura. Conforme a criança amplia seu universo lúdico, maior as chances de cada uma valorizar e criar novas atividades dentro de cada contexto.

A escola como espaço privilegiado na aprendizagem da cultura lúdica de movimento

As mudanças ocorridas nas últimas décadas, principalmente no campo tecnológico, deram ao homem, sem sombra de dúvidas, uma dimensão grandiosa. Por outro lado, essas mudanças geraram alterações significativas no cotidiano das pessoas afetando também, como veremos, a natureza, a qualidade e a variedade das aprendizagens das crianças com respeito ao brincar e seu desenvolvimento corporal.A entrada das mulheres para o mercado de trabalho, as famílias ficando menores, o afastamento dos grupos de parentes (até algum tempo esses grupos moravam mais ou menos próximos) a urbanização dos espaços físicos, que fez diminuir o número de lugares disponíveis para a prática de jogos e brincadeiras de movimento, a presença cada vez maior da televisão, computador e vídeo game na vida das pessoas, tempo ocupado com cursos de toda natureza, implicaram, a nosso ver, num empobrecimento das experiências das crianças principalmente no que diz respeito à atividade corporal e à brincadeira: queima de etapas , encurtamento da infância, ruptura na relação ensino-aprendizagem entre mais velhos e mais novos, sedentarismo precoce e por conseguinte obesidade infantil entre outros, foram as marcas deixadas por esse empobrecimento .
Diante de um quadro como esse,enxergamos a escola como local potencialmente favorável à recuperação, preservação e aprendizagem da cultura lúdica . É na escola que encontraremos, muito definidos, os elementos essenciais para que se dê a aprendizagem das brincadeiras: Tempo, espaço e pessoas Assim, é necessário de antemão ressaltar a importância que os educadores têm na efetivação de um projeto de trabalho que valoriza as brincadeiras. Para tanto, devem investir na sua formação no que diz respeito ao brincar. É importante que incorporem aos seus saberes, à suas práticas e à rotina diária o valor do movimento e das brincadeiras para a vida das crianças; Reservar um tempo para brincar e que não seja somente o tempo do recreio ou parque; potencializar espaços desafiadores para que a brincadeira aconteça; Recuperar sua memória de infância, buscando os jogos e as brincadeiras realizavam quando criança e adaptá-las ao contexto escolar.
Devem levar consideração os saberes das crianças a respeito do brincar, sua predisposição para criar e que não inibam essas potencialidades; Deve lembrar-se sempre que as crianças avançarão em seus conhecimentos se forem alimentadas com novos saberes, a partir de novos repertórios e experiências e que esses novos conhecimentos virão de pessoas mais capazes que elas , tais como: o professor e os colegas e as colegas mais velhas. Nesse aspecto é importante a formação de agrupamentos com idades diferentes, pois o mais experiente pode auxiliar o menos experiente; Reservar e garantir tempo e espaço para a brincadeira livre e espontânea; Evitar de controle excessivo das crianças com o propósito de protegê-las contra acidentes;
Quanto mais aprendem a brincar, mais querem brincar! Ao desenvolver um trabalho estruturado que valoriza as brincadeiras como recurso ao desenvolvimento e educação corporal, os professores devem compreender que estarão habilitando, cada vez mais, a iniciativa das crianças em torno desse universo. Situações lúdicas-coletivas organizadas pelas próprias crianças é resultado de experiências vividas de forma significativa anteriormente. É claro que com crianças de 3 e 4 anos a possibilidade de jogos de regra em grupos acontecerem com autonomia, sem a iniciativa do educador, são poucas. Mas não tenha dúvida, se tempo e espaço forem garantidos, as crianças com 5 ou 6 anos começarão a organizar, a seu modo, situações de jogo mais elaboradas. E isso é muito bom!